domingo, 17 de agosto de 2014

Resolução de avaliação do 3º EM

Caros alunos,

Segue a resolução da avaliação do Módulo 23.

1.   Leia os textos abaixo:

Coube ao Gen. Mourão Filho, Cmt. da 4ª Região Militar, essa histórica iniciativa, a 31 de março, nas altaneiras montanhas de Minas. E a Revolução, sem que tivesse havido elaboradas articulações prévias entre os Chefes Militares
, – não teria havido tempo para isto – empolga o Exército, a Marinha e a Aeronáutica, para ter seu epílogo às 11h45min do dia 2 de abril, no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, com a partida do ex-Presidente João Goulart para o estrangeiro.

M. P. Figueiredo. A Revolução de 1964. Um depoimento para a história pátria. Rio de Janeiro: APEC, 1970, p. 11-12. Adaptado.

Lembro-me bem do dia 31 de março de 1964. Era aluno do curso de Sociologia e Política da Faculdade de Ciências Econômicas da antiga Universidade de Minas Gerais e militava na Ação Popular, grupo de esquerda católica [...] No dia seguinte, 1º de abril, já não havia dúvida sobre a vitória do golpe. Saí em companhia de colegas a vagar pelas ruas de Belo Horizonte [...] Contemplávamos, perplexos, a alegria dos que celebravam a vitória e assistíamos, assustados, ao início da violência contra os derrotados.

J. M. de Carvalho. Forças Armadas e Política no Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005, p. 118.

a) Que denominação cada autor utilizou para se referir ao regime instaurado após 31 de março de 1964? A que se deve essa diferença de denominação?
b) Tal diferença se relaciona com a criação da Comissão da Verdade em 2012? Justifique. 


Resposta:

a) No texto 1 (M.P. Figueiredo), o autor utilizou a denominação “revolução” para o regime instaurado após 31 de março de 1964, já o autor do texto 2 (J.M. de Carvalho) utilizou a denominação “golpe”. Essa diferença de denominação está relacionada com a forma como cada grupo envolvido no processo encarou o regime instaurado. No primeiro caso, estão principalmente os segmentos ligados ao meio militar e da burguesa patrocinadora do movimento. No segundo grupo, os opositores ao regime, seus simpatizantes.
b) Sim. A partir de 1970, com a “abertura política” e a divulgação cada vez maior de informações obtidas através de documentos e testemunhos de personagens envolvidos nos fatos ocorridos durante a vigência do regime instaurado após 31 de março de 1964, ficava cada vez mais difícil defender a ideia de “revolução”. Mais recentemente, inspirado pelos acontecimentos nos países vizinhos, instauraram-se as Comissões da Verdade, com o objetivo de investigar e apurar os fatos envolvendo os desaparecidos políticos.

2.   Analise o fragmento a seguir.

Algumas pessoas ficaram histéricas quando ouviram Alegria, Alegria com arranjos de guitarras elétricas. A estes, tenho a declarar que adoro guitarras elétricas. Outros insistem que devemos nos folclorizar. Nego-me a folclorizar meu subdesenvolvimento para compensar as dificuldades técnicas. Ora, sou baiano, mas a Bahia não é só folclore. E Salvador é uma cidade grande. Lá não tem apenas acarajé, mas também lanchonetes e hotdogs, como em todas as cidades grandes.
VELOSO, Caetano. Apud COELHO, Cláudio. A Tropicália: cultura e política nos anos 60. In: Tempo Social, v. 1 (2), 1989, p. 167.



O Tropicalismo foi um movimento cultural brasileiro formado no final da década de 1960, sob o regime militar. A apresentação da canção “Alegria, alegria” no festival de 1967 foi considerada um dos marcos fundadores desse movimento. Com base no fragmento apresentado, explique
a) uma característica do Tropicalismo;
b) a reação do público à apresentação de “Alegria, alegria”. 


Resposta:

a) O tropicalismo foi caracterizado pela superação de diferentes dicotomias. Duas características deste movimento aparecem no fragmento apresentado (o candidato deve explicar apenas uma característica). São elas:
- a superação da dicotomia nacional/estrangeiro: o tropicalismo expressou uma retomada do manifesto antropofágico da década de 1920 ao propor a incorporação e a deglutição das influências estrangeiras para a elaboração da cultura nacional. Nesse sentido, o uso de guitarras elétricas e a afirmação da existência de hotdogs na Bahia indicam a necessidade de apropriação do estrangeiro pelo nacional;
- a superação da dicotomia tradicional/moderno: a Tropicália expressou a simbiose entre o moderno e o tradicional, produzindo uma arte metropolitana. No fragmento apresentado, a guitarra elétrica, as lanchonetes e os hotdogs são metáforas da cultura estrangeira e da ideia de moderno, ao passo que o folclore e o acarajé são expressões do tradicional.

b) A reação do público à apresentação de Alegria, Alegria foi de rejeição, expressando uma concepção de cultura brasileira subserviente a uma identidade nacional que se nutre apenas do que é endógeno. Quando Caetano menciona “insistem que devemos nos folclorizar”, dirige a crítica a uma concepção de cultura que, no período, valorizava o folclore e a tradição musical brasileira (bossa nova, samba). Por isso, o uso de guitarras elétricas manifestava a influência do imperialismo estadunidense, que, por ser exógeno à cultura brasileira, devia ser rejeitado.
 
3.  
 




A charge representa João Goulart e Juscelino Kubitschek. A que episódio político a imagem se refere? Qual é o contexto político interno em que tal episódio se insere? Justifique sua resposta.


Resposta:

A charge se refere ao plebiscito realizado em 1963, que acabou com a pequena experiência parlamentarista e restaurou o presidencialismo no país. O plebiscito ocorreu num contexto de crise do modelo populista, agravada pela renúncia de Jânio Quadros em 1961, que abriu caminho para a chegada de Jango ao poder, máximo representante do populismo e visto como esquerdista pelos grupos mais conservadores que faziam oposição.

4.   Na foto abaixo reproduzida, o presidente Jânio Quadros condecora o líder da Revolução Cubana, Ernesto Che Guevara.
 




















a) Como essa condecoração pode ser explicada no contexto das propostas do governo Jânio Quadros para as relações externas do Brasil?
b) Quais grupos, no Brasil, criticaram esse acontecimento?


Resposta:

a) O governo Jânio Quadros adotava uma política externa independente, o que significava não se alinhar e nem se submeter aos EUA, no contexto da Guerra Fria e nem se submeter a URSS. Neste contexto, Che Guevara era membro do governo socialista cubano após a Revolução Cubana.
b) A UDN, militares, setores conservadores aliados aos EUA que temiam o perigo comunista.




5.   TEXTO 1
“[...] Depois de decênios de domínio e espoliação, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive que renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho.
[...] Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente, dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história”.

(Carta-testamento deixada por Getúlio Vargas, em 24 de agosto de 1954 – citada por JUNIOR, Antonio Mendes; MARANHÃO, Ricardo (orgs.) Brasil – História - Texto e Consulta – Era Vargas. São Paulo: Hucitec, 1989, p. 258).

TEXTO 2
“Fui vencido pela reação, e assim deixo o governo [...] desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando, nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia, que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos internos e externos. Sinto-me, porém, esmagado. Forças terríveis levantam-se contra mim e intrigam ou infamam, até com a desculpa da colaboração. Se permanecesse, não manteria a confiança e a tranquilidade, ora quebradas e indispensáveis ao exercício da minha autoridade. Encerro, assim, com o pensamento voltado para a nossa gente, para os estudantes e para os operários... a mim não falta a coragem da renúncia.”

(QUADROS, Jânio; ARINOS, Afonso. História do Povo Brasileiro. São Paulo: Jânio Quadros Editora, 1967, Vol. VI, p. 237, 238. Adaptado).

a) Mencione duas razões comuns a estes dois acontecimentos históricos: o suicídio de Vargas, em 1954, e a renúncia de Jânio Quadros, em 1961.
b) Analise dois elementos que caracterizam o discurso político do populismo.


Resposta:

a) 1. Tanto Vargas quanto Jânio Quadros ocuparam a presidência em períodos de expansão do imperialismo, sobretudo norte-americano e de radicalização da Guerra Fria;
2. Ambos tinham contra si: a) a fragilidade das instituições políticas, com nítida dificuldade em absorver a participação política das massas; b) a UDN e todos os grupos apartidários que simpatizavam com os “entreguistas” e eram amigos dos americanos; c) a quase totalidade dos Chefes das Forças Armadas, que desconfiavam do “estado de compromisso” preconizado por Vargas que mobilizava diversas classes e facções de classe que se destacavam no cenário político com vistas a resolver demandas sociais – e da política externa de Jânio que restabeleceu as relações diplomáticas e comerciais com os países socialistas do leste da Europa, da Ásia (China), dando apoio aos revolucionários cubanos e condecorando Ernesto Guevara; d) toda força dos trustes e monopólios que não engoliam a Petrobras e a adoção de medidas econômicas de controle de remessa de lucro para o exterior; e) os mais importantes jornais do país, frações da burguesia industrial e rural, setores jurídicos e profissionais liberais das classes média urbana e da Igreja católica que se uniram em torno de uma pauta comum: apuração do que se cunhou como “mar de lama”; defesa do nacionalismo contra o comunismo; o perigo da cessão às pressões das manifestações de massa e dos movimentos populares.

b) POSSIBILIDADE 1 - Apelo à razão e a sensibilidade das massas trabalhadoras das grandes cidades e centros industriais no sentido do apoio ao “estado de compromisso” acenando com a garantia do emprego e consolidação de uma legislação trabalhista ampliadora dos direitos sociais jurídicos e políticos da cidadania.
POSSIBILIDADE 2 – A conclamação à conciliação das classes e categorias sociais em nome do nacionalismo em contraposição ao imperialismo cujos interesses apontam para a exploração das riquezas nacionais e para a dependência econômica do país aos trustes e multinacionais principalmente dos Estados Unidos.
POSSIBILIDADE 3 – O discurso é paternalista e carismático e estabelece uma autoridade e um poder ao líder populista que o legitima a mediar as demandas de um conglomerado de indivíduos que tem dificuldade de fazer valer seu interesse de classe, não podem representar-se, têm que ser representados.
POSSIBILIDADE 4 – Tentativa de preservar o papel de líder de massas que através do próprio sacrifício - o suicídio e a renúncia – teatralizariam uma exemplaridade de ética, coragem e retidão moral.



 
6.   
















Analise a charge, publicada originalmente em 17.05.1963, e identifique como ela representa as dificuldades enfrentadas pelo governo João Goulart em seu projeto de reformas sociais.


Resposta:

O governo do presidente João Goulart lança em 1963 o chamado Plano Trienal para combater a inflação, lançar as bases para a retomada de crescimento econômico como na época de JK. Essa proposta de reforma seria acompanhada por reformas estruturais mais profundas, as chamadas Reformas de Base, que incluiriam as Reformas Agrária, Tributária, Financeira e Administrativa,
propostas essas que foram combatidas pelos partidos políticos UDN e PSD, que representavam os interesses da elite brasileira (proprietários de terras, industriais, banqueiros, grandes comerciantes e parte da classe média) e de um capitalismo liberal aberto ao capital estrangeiro que via nessa tentativa de reforma um viés esquerdista e uma real tentativa do governo de efetuar uma distribuição de renda.


  

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